terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Indulgência etílica


Como me surpreendo com a vivacidade dos jovens.

Na verdade, me surpreendo com minha capacidade de fingir que sou um deles, só para confundir a analítica de cada um desses viventes.

Ao tempo que ouso, recuo. Enquanto danço, cogito. Brinco com os limites da intersubjetividade.

Valso sobre as regras da etiqueta. Profano a lógica do bom comportamento.

Como uma criança curiosa e sedenta de atenção, pulo e sapateio, grito e rodopio, canto e desencanto.

Depois, se faço algo a mais. Se, por extremismos de jocosidade ou demasia de coloquialismo, comprometo a austeridade da gangorra que tem nas pontas nós, os seres; finjo estar dominado pelo álcool.

Isso mesmo, ébrio de pai e mãe. - Se te parece baixo, caro leitor, experimenta esse truque conquistador de uma posterior purgação. Sim, pois a indulgência não é imediata. Tudo deve ser fruto de um vindouro processo de cogitação.-

Possivelmente no dia seguinte - Só então é que estarão prontos a reconsiderar os excessos e justificar os maus hábitos. - pensarão: perdoemos-lhe! Afinal, estava bêbado. E, assim, audaciosamente usufruo da indulgência que é gratuitamente distribuída aos ébrios.

Dessa forma, torpe e indigna, eu sei; consigo o gratificante perdão e a continuidade do fraterno convívio.

E é por isso que exalto a benevolência dos viventes em oferecer tamanha indulgência aos ébrios. E não me envergonho. Garanto-te que fazes para ti mesmo coisas que em si só são muito mais rasteiras e desprezíveis; e assim mesmo se mira ao espelho todos os dias.

Obviamente, fazem-se necessárias certas ressalvas. Possuo também o dom de às vezes não estar mentindo. Posso ser, realmente, acalentado pelo alumbramento etílico. A variante é apenas a capacidade interpretativa.


P.S.: Se achas que eu estava bêbado ao fazer esse texto, cuidado! Pois tens total razão!